quarta-feira, 7 de abril de 2010

Acalma


Te acalma coração, que pressa é essa?
Parece menino que nunca viu o mar e quer logo correr pra água. Quer saber mesmo se é salgada.
Parece sertão em dia de chuva, correndo depressa lá pra fora levando cumbuca, fazendo da chuva, lágrima e da lágrima fazendo chuva!
Parece criança em dia de festa, ali de beirada na mesa, entre doces e refrigerantes, querendo por querer ajudar no sopro do aniversariante.
Parece ansiedade de esperar o bloco começar a desfilar, de esperar o time ganhar, de esperar pra ganhar um novo coração.
Acalma-te, deixe estar...
Deixe estar coração, deixe o ritmo mais lento, deixa ser samba!
Isso! Samba daqueles que começa em tom menor e vai em cadência.
Sem pressa nos acordes, meio preguiçoso de acordar.
É só deixar a porta aberta e não ficar olhando pro relógio mas esperar a hora chegar.

Fé na Fé



Olha seu moço, não reclamo muito da vida não... Quer dizer, como o sinhô pode vê, tenho muita coisa não, tudo aqui é resto mas é o que restou pra gente.
Daqui de baixo a gente vai sobrevivendo.
Se chove a gente se esconde.
Se vem polícia a gente se esconde.
Pra te dizer a verdade, seu moço, a gente só não se esconde de Deus porque ao menos fé a gente tem.
Apesar de que mesmo assim a fé as vezes deixa a gente na mão.
As vezes é difícil ter fé porque, as vezes, a gente não tem papelão.
As vezes é difícil ter fé porque, as vezes, o sol castiga por demais o nosso pé no chão.
As vezes é difícil ter fé porque, as vezes, a gente volta sem ter muito o que comer lá do lixão.
Mas seu moço, essa é a nossa situação então não reclamo não.
Fé que um dia meu menino vai ter um carro além do de papel.
Fé que o mundo pare de tratar a gente como réu.
Fé que minha mulher deixe de ficar jogada ao léo.
Fé na fé porque de onde a gente tá é só esperar aquele moço descer do céu!

terça-feira, 6 de abril de 2010

A mais nova nostalgia


Um copo.
Dois cubos de gelo.
Três dedos de Uísque.

Ao fundo a velha vitrola, tocando o som daqueles que sabiam amar.

Nossa Música


Deitados na grama, brincavam de ser folhas secas.
Os dedos entrelaçados brincavam de se abraçar.
Qualquer lembrança que tinham de quem eles eram, era pouco.
Nada se comparava ao que eles, agora, acreditavam ser.
O seu coração batia ao ponto do que o coração dela se calava.
Seus corações, juntos, não existiam momento de silêncio.
Sem espaço para o vácuo.
Sem pausa na partitura.
Sempre sem perder o tom.
Era simples, um coração batia ao ponto que o outro se calava.
Eram sempre:
_Amar...
_Amar...
_Amar...
_Amar...

Mãe, me ajuda a entender


Mãe! Vem ver mãe! Hoje eu fiz uma poesia!
Quer dizer, não tão bem poesia, eu só dei ordem a algumas palavras que estavam por ai meio esquecidas.
Mas mãe olha só! Vê se entende o que eu quero dizer...
Meus versos não rimam porque não é sobre perfeição que eu quero dizer.
Tem palavras bonitas mas nada muito difícil porque eu quero ser entendido.
Tem um pouco do que eu fui, tem um pouco do que eu quero ser e tem só um pouquinho do que eu sou. Isso porque do que eu sou eu ainda não sei muito bem.
Dá pra perceber que eu tentei dizer sobre aquela que eu quero que seja o meu bem, né?
Sobre como ela é eu consigo falar bem, e isso é só pela esperança que no caderno dela ela me diga quem eu sou também.

Intervalos


Acordei da mesma forma, no mesmo horário.
Métrico.
Vi na rua os mesmo rostos de sempre. 
Rotineiro.
Trabalhei com o mesmo entusiasmo de sempre, ou com a falta dele. 
Adaptado.
Me confundi com o retorno para casa.
Fiquei sem saber que dia da semana era porque tudo era muito parecido com ontem. Ou com ontem de ontem... Não me lembro mais.
Todos os meus dias parecem ser a extensão das coisas que sempre me acontecem. Nada de horóscopos para mim, obrigado.
Durmo como eu dormi ontem, o mesmo ritual: troca rápida de canais, chinelos, escadas, banho, pijama, dentes, óculos no criado, acerto no relógio e luzes.
O dia de hoje é o dia de ontem.
Teria tomado isso como certeza se nos intervalos dos fatos que me ocorreram não existisse a forte e estranha vontade de te ver.
(E com a cabeça no travesseiro, penso e me atrevo a dizer: amanhã, eu só quero a parte de querer te ver).