segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sobre Folhas (ou um Conto de Infância)


Eu quando pequeno e não tinha com o que brincar, qualquer coisa me servia.

Qualquer coisa que caia parecia um avião!

Qualquer coisa que mexia era minha condução.

Qualquer caixa de TV, de papelão

Eu fazia um foguete, ia até plutão.

Enquanto espero o Sinal


Olho pro chão e já tenho cadarços desamarrados.
No verde do semáforo não tenho mais esperanças.
No espelho da loja já tenho cabelos desarrumados.
E eu tenho a impressão que o tempo, outra vez, pede por mudanças.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Entre Tantos


Entre tantos, agora eram carne em simetria.

Entre afagos, algumas pausas. [Pura necessidade de respiração].

Entre mãos, cicatrizes, espinhas, pêlos ou qualquer outra coisa que nos é natural.

Entre gosto é agridoce, o doce veneno do sal da pele.

Entre espaço não temos mais nenhum centímetro. Tudo é linha tênue e entre nós a linha agora é curva.

Entre apegos o desapego do tempo e das lembranças. Indiferença para qualquer Tic-Tac.

Entre sons, o silêncio e a quebra do silêncio com sussurros ditos em outras línguas.

Eram assim:

Entre dedos, cabelo.

Entre corpos é comum.

Entre muitos eram dois.

Entre dois eram um.

Alguma Coisa Acontece


Mas é que as vezes dá uma coisa na gente que a gente fica sem saber explicar.
A gente fica meio assim, sem jeito, sem saber o que falar.
Coisa estranha essa.
Tenho muita coisa guardada dentro de uma caixa de sapato, em baixo da minha cama. Procurei ali alguma coisa que explicasse essa coisa que eu sinto, mas é tanta coisa em vão que em vão se torna o tempo que vou perdendo.
Qualquer coisa nas gavetas, nas estantes, no sótão ou no porão, (e olha que no porão tem muita coisa), qualquer coisa não era a coisa que eu sentia.
Vou sair. Roupa amassada e chapéu. Coisa Rotineira.
Na rua, tropeço em alguma coisa aqui, outra ali... Nada demais, coisa normal.
Bar. Entro.
Sento e já tenho um copo e bebida.
(Mas não é exatamente o que quero).
Entre copos, coisa estranha acontece.
Ela entra. Senta.
De longe é fácil perceber que ela usa alguma coisa para prender o cabelo.
Copo na mão. Na minha também.
Ela me olha e eu faço cara de qualquer coisa.
(Coisa estúpida).
Ela sai. Dinheiro na mesa.
Eu também.
Na rua, chamo por ela. Grito qualquer coisa.
Ela para. Sorri engraçado. Linda.
Eu ando. Não digo nada.
(Não poderia dizer qualquer coisa).
Digo o nome. Ela também.
(Bom, isso é um começo).
Digo sobre outra bebida.
Eu tinha que dizer alguma coisa!
Ela aceita.
Ela sorri. Sorrio.
(...)
Isso até me parece alguma coisa.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Criado Mudo


Difícil é ver seu retrato descansando no meu criado mudo que insiste em dizer que você não volta mais.

Presente do Tempo


Hoje eu vi o tempo.
O vi detalhado no rosto de alguém mais velho.
Esculpindo obras na pele.
Novas imagens para quem já começa a esquecer das coisas antigas.

Hoje eu não vi o tempo.
Mas também, ando evitando qualquer espelho.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobre o Mar, Sol e Lua



_Eu acho que se fizermos silêncio vamos conseguir escutar o barulho do sol quando ele chegar perto do mar.
_ Eu sempre amei essas suas viagens... Quando você fica divagando sem sentido.
_Mas tem sentido! Você não vê? Na realidade o sol só queria uma coisa; encontrar a lua. E de tanto desejo de encontrá-la ele tem vontade de nunca se apagar, de ficar ali em cima só esperando ela chegar. Mas parece que isso não pode acontecer e por isso o sol é obrigado a todos os dias se pôr e esfriar-se no mar. É obrigado a ter menos amor pela lua.
_Eu nunca fui de entender o que você vive dizendo. Engraçado... Hoje que estamos dizendo adeus, que estamos despedindo, eu entendo. É sempre assim, não é? Parece que sempre tem que ser assim... A gente entende quando tudo acaba.
_Agora você entende? Vê quem na realidade somos nós? Eu sempre quis ser sol e queria ter você como lua.
_Entendo. Não se ama o sol se não conseguimos deixar de ser mar.

Pelo ralo


E todo dia de manhã quando fazia a barba também fazia esforço para não deixar a esperança escorrer pelo ralo.

Nó em Nós


Não é o nó da gravata que mais me aperta.

Apertado é o espaço que tenho para o meu coração bater.

Parece me faltar metro. [Isso sem falar da métrica]

Afrouxo os nós, mas coração não sabe de plural.

domingo, 11 de julho de 2010

Um Móbile no Furacão (Moska)


Você diz que não me reconhece, que não sou o mesmo de ontem
E que tudo o que eu faço e falo não te satisfaz
Mas não percebe que quando eu mudo é porque
Estou vivendo cada segundo e você
Como se fosse uma eternidade a mais
Sou um móbile solto no furacão...
Qualquer calmaria me dá... solidão


Na última vez que troquei meu nome
Por um outro nome que não lembro mais
Tinha certeza: ninguém poderia me encontrar
Mas que ironia minha própria vida
Me trouxe de volta ao ponto departida
Como se eu nunca tivesse saído de lá

Sou um móbile solto no furacão
Qualquer calmaria me dá... solidão


Quando a âncora do meu navio encosta no fundo, no chão
Imediatamente se acende o pavio e detona-se minha explosão
Que me ativa, me lança pra longe pra outros lugares, pra novospresentes
Ninguém me sente...
Somente eu posso saber o que me faz feliz
Sou um móbile solto no furacão
Qualquer calmaria me dá... solidão

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sobre o Esquecimento


E o lápis não obedece.
Olha pro papel e fica com medo de nadar em tanto vazio.
Esquece dos predicados e dos nomes.
Das rimas e dos nominais.
Esquece até que esse era um poema para ela.
Mas é triste, já esqueceu também do que é amar.

Crença (Lenine)


Eu só penso em você
Depois que eu penso em mim
E eu penso tanto em nós dois
Sei que é de cada um
E acho até comum
Pensar assim de nós dois

Vai que a gente pensa igual
E acho isso normal
O igual da diferença
Cada um, todo ser
Tem sua crença

Eu só penso em você
Depois eu penso em mim
E eu me confundo em nós dois
Sei quando viramos um
E aparece um
Que se mistura em nos dois

Vem não há o que pensar
Melhor achar normal
Viver a diferença
Pensa não, deixa assim,
Que a vida pensa

Tanto por viver, tento não jogar
Pra baixo do tapete essa poeira.
Tonto de você tento não pensar besteira.

Tanto por você, para o nosso bem
Às vezes fica um com e o outro sem
Seja como for somos nós e mais ninguém

O que eu quero de você
E você quer de mim
Nós decidimos depois
Eu só penso em você
E tenho aqui pra mim
Que você pensa em nós dois